Tuesday, July 01, 2008

Nem dói mais.

Nem dói mais.
Nem dói e falo isso com aquele orgulho que os sobreviventes de guerra tem no tom da voz.
Talvez eu seja uma sobrevivente também. Só quem já viveu a perda de um amor tão grande como eu sabe do que estou falando.
São etapas e você tem que tirar forças não sei de onde pra conseguir sobreviver.
No princípio você fica sem chão, atordoado, como se fosse desmaiar. Depois vem aquela sensação (e um desejo profundo) de que seja mentira, um sonho, um pesadelo. Quando a realidade é mais forte e você se toca do fim vem a fase do choro, são tantas as lágrimas que seria possível encher uma piscina, olímpica, inclusive.
A etapa seguinte é a raiva, você sente que é o ódio que te motiva, você acorda odiando, passa o dia embebida nesse sentimento e por fim vai dormir na certeza que no dia seguinte é o ódio vai te acordar e fazer com que sobreviva a mais um dia. Passado um tempo (e isso varia muito) as coisas vão retornando ao normal, você volta a ter uma vida social, noitadas, festas, porres, mas tudo diferente do que era, sem envolvimento, sem ser notado, é um estar ali sem estar. Minha fase “samambaia” foi terrível, eu simplesmente não fazia a menor diferença aonde ia, e o pior, durou quase um ano.
O tempo passa, e o tempo meus queridos, é o melhor amigo daqueles que sofrem por amor, e conforme os dias e meses vão passando, a poeira vai baixando, o monstro diminui de tamanho, e nem é mais tão assustador. Então um dia você se toca que aquela sensação de abandono foi frescura, que as lágrimas choradas foram desperdiçadas, que aquele ódio todo só te deu dor no estômago, as festas e as noitadas voltam a ter o brilho de antes. Tudo que aconteceu e te atormentou tanto é tão pouco e sem sentido. De repente você se toca que na realidade nem amou tanto, que a perda nem foi tão grande assim, que a vida continua, que tem dias que o sol brilha que é uma beleza, e que mesmo em dias de chuva existe uma beleza que sempre esteve lá.
Uma bobagem. Foi nisso que o meu amor por você se transformou, em uma bobagem. E eu passei a não me importar com aqueles detalhes que me incomodavam, como o fato de nunca ter dito adeus, nunca ter dito que eu sentia, do nosso trato do soco no nariz (lembra disso? Que bobagem!!), tanta coisa pra te contar, te dizer, talvez te xingar, xingar a tua família, tudo uma grande bobagem. E hoje nada disso importa, e o fato de não me importar me agrada. Não me importar é charme, como se nada do que aconteceu me afetasse de fato. Blazè, como você me chamava.
Cair e levantar.
Arranhou? Assopra que passa.
E hoje, se te encontrasse na rua era bem capaz de te cumprimentar, sorrindo, e perguntar com aquele ar vazio dos que não se importam: “Tudo bem com você?”.

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