Saturday, October 28, 2006

Mentiras e melancolias



Então, um belo dia eu cheguei no fim do caminho.
Literalmente no fundo do poço.
E como no fundo do poço só há espaço pra um, eu te deixei lá.
E pra enxergar um caminho coloquei óculos coloridos.
Café da manhã com anfetamina, pra ter coragem de levantar do meu mundo particular.
Jantar com barbitúrico pra conseguir dormir e esquecer.
Cansei dos olhares piedosos e a vontade de vomitar vem toda vez que tenho que fingir.
Mas isso não me incomoda, porque eu sei que todos sentem o mesmo que eu.
E mentem também. Fingem. Como eu.
Um dia estaremos todos aos gritos, implorando por uma dose exageradamente grande de qualquer coisa que nos faça morrer.
E eu estarei lá, olhando pro chão, tentando entender, enquanto piso na lama, vendo a sujeira entrar entre meus dedos de unhas cuidadosamente pintadas de vermelho.
Peço mais uma dose de algo forte e amargo, pra brindar a tua lembrança.
A música ecoa, equaliza nos meus ouvidos e no corpo todo.
Todos dançam inebriados em suas próprias dores.
Todos mentem e fingem não saber.
E toda aquela lama lá.
Aquela sujeira me incomoda, tenho vontade de ir embora.
Acendo um cigarro.
Vejo que ele está na minha frente, fala, mas não ouço, só vejo seus lábios mexendo e seus olhos azuis olhando os meus verdes.
Sinto sua mão quente tocar minha pele gelada.
Queima.
Ele me oferece proteção.
Mas eu já não quero ser salva.
Agora só a vontade de vomitar me aborrece.

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